Mordendo a Maçã

A princípio, não tinha intenção de reatar qualquer romance com minha amiga de infância. Sei bem o quanto ela pode ser infantil e insensata. Por isso mesmo tentei de todas as formas evitar uma aproximação mais íntima, estava completamente arrebatado com a possível promessa de Mei e tinha algumas conhecidas que poderiam me oferecer uma balada sem maiores consequências ou compromisso.

A falta de privacidade exigia de mim um esforço hercúleo para não me deixar atingir pelas provocações de minha amiga, sempre andando de roupas mínimas dentro de casa. Eva pode não ser uma beldade como Mei ou Lana, mas tem um corpo de dar inveja. Seios fartos, cintura fina, belos quadris, usa um perfume sensual e provocante. Realmente fica difícil resistir quando uma mulher assim o abraça de noite na cama ou faz questão de passear pela casa só de tanguinha.

Impossível resistir, por isso mesmo me deixei levar pela sua sedução e me entreguei ao prazer amplamente oferecido por minha amiga. Mas antes de qualquer coisa acontecer entre nós lhe contei sobre o meu amor pela minha Mestra e o desejo de voltar a Shang Simla para reencontrá-la. Aparentemente Eva mudou e disse estar apenas desejosa de passar um tempo agradável comigo. Contudo só poderia me certificar disso com o passar dos dias e ainda não estava de todo convencido.

De Volta ao Lar?!

Mal desfiz minhas malas e a campainha tocou. Atendi um tanto contrariado, ansioso por um banho e algumas horas de sono. A surpresa veio na forma de uma velha amiga, há muitos anos não nos encontrávamos e fiquei feliz por revê-la. Até perceber sua ansiedade e ouvir sua voz:

– Vou morar uns tempos com você, ocupo pouco espaço e assim que as coisas melhorarem eu deixo você livre de mim novamente. – Não tive chance de negar sua estadia. Sua única mala já tomava conta da minha entrada.

Aquela loira maluca sabia exatamente como me dobrar, afinal me conhecia desde a mais tenra infância e todas as minhas facetas. Sem meu consentimento entrou, guardou suas roupas em minha cômoda e acomodou sua bagagem em um canto do cômodo. Resolvi esfriar a cabeça e tomar um banho longo e demorado, não havia como espantar esta indesejada hóspede.

Eva e eu sempre fomos bons amigos, quando a adolescência chegou, resolvemos de comum acordo descobrir mais sobre nossos corpos e apreciar cada faceta de nossos desejos. No começo eu realmente me apaixonei por minha amiga, durante a adolescência sua beleza estava no auge e isso foi o suficiente para me deixar fascinado. Além do óbvio: nosso encaixe era perfeito.

Contudo ela é uma romântica incurável, por um tempo achou que a paixão recém-descoberta me transformava na sua alma gêmea, me assustando um pouco com a ideia de compromisso. Depois de três meses a novidade se esgotou e ela se apaixonou por Will. Em nenhum momento escondeu isso de mim e por isso mesmo, Will e eu passamos por situações muito constrangedoras. O suficiente para apagar qualquer paixão adolescente.

Superando o Mestre

Certamente nunca superarei Mei em sua supremacia na meditação, sua capacidade ilimitada de concentração, além de seu intelecto superior – ela é reconhecidamente superdotada, com um QI muito acima da média. Superei-a apenas na capacidade para lutar. Após finalmente silenciar minha mente e aprender a meditar ao ponto de me teletransportar para qualquer lugar em Shang Simla, os incansáveis e intensivos treinos se tornaram lutas entre nós.

Quando consegui derrotá-la em uma luta justa e limpa, minhas férias estavam prestes a acabar. Naquele mesmo dia eu voaria de volta a Brigedport e me despediria da minha adorável e amada Mestra. Foi quando ouvi sua voz emocionada e trêmula afirmar:

– Você está pronto para encontrar o seu lugar no circuito de lutas e um novo Mestre. Você me superou! Quando você chegou aqui, duvidei de sua capacidade e questionei suas motivações. Mas hoje eu admiro o homem que se tornou e fico feliz por ter ensinado a você tudo o que sei. Se voltar a Shang Simla, você não será mais meu discípulo e poderemos ser apenas uma mulher e um homem. Espero que volte e se hospede em minha casa.

Ao final de seu discurso surpreendente, voltou para casa e fechou a porta. Não me deu a oportunidade de devolver seus elogios e agradecer o convite. Contudo, se compreendi bem sua mensagem, ela também sente atração por mim e espera meu retorno para que possamos finalmente realizar nossos desejos. Mal posso esperar nosso reencontro.

Antes de partir, passei no Imperador para um último drink e esperar a hora da minha volta. Encontrei alguns amigos por lá e me despedi mais uma vez, percebendo o quanto a minha volta para casa deixaria saudades, não apenas em mim. Meu carro para o aeroporto partiria do albergue o qual não dormi nem sequer uma noite, embora costumasse passar por lá para receber minha correspondência. Na hora marcada, o carro passou e voltei para casa.

Todo Aluno Precisa de Descanso

Mei me convidou para dormir em sua casa durante todas as noites que seguiram meu treinamento, como havia apenas um quarto, me ofereceu a sala. Preferi não atrapalhar sua rotina e montei minha barraca em sua entrada. Eu fazia praticamente todas as refeições com ela, do desjejum ao jantar. Não poderia desejar nada melhor, sua excelência na cozinha foi comprovada durante toda a minha estadia, além de sua conversa cada vez mais solta e confortável. Isso também me poupava de subir e descer de bicicleta a longa trilha do meu alojamento original. A possibilidade de tomar banho quente em um banheiro limpo e bem cuidado era o suficiente para eu esquecer qualquer desconforto de um saco de dormir.

Toda sexta, ela saía logo ao crepúsculo, me liberando para fazer o que desejasse. Eu aproveitava para fazer compras nas lojas do pequeno centro comercial, principalmente os diversos livros sobre artes marciais que só poderia encontrar naquela cidade. Aproveitava para provar a comida local no pequeno armazém, barganhei muitos dos tesouros e relíquias encontrados nas minhas aventuras, comprei também alguns objetos para manter meu treinamento quando voltasse para Bridgeport.

Frequentava com assiduidade o único bar da cidade, o barman servia drinques explosivos e após conversarmos sobre meu treinamento confessou ter tatuado a nuca de Mei com um dragão, seu signo no horóscopo chinês. Pedi então para que fizesse a mesma tatuagem em meu braço, seria algo a compartilhar com minha Mestra, o qual seguiria para sempre comigo. Neste mesmo bar fiz muitos amigos e todos muito felizes por compartilharem suas experiências e vidas naquela pequena cidade.

Uma Difícil Aprendizagem

Minha Mestra não era muito versada em lutas, mas sabia explicar todos os golpes. Demonstrava-os com detalhes e me incitava a executar cada um deles em sequências alternadas no boneco de treinamento. Após quatro horas exaustivas de treino ininterrupto, podia ler em seu semblante a insatisfação por não conseguir movimentar-me com a mesma graça e desenvoltura necessárias. Sem dizer uma palavra me entregava uma toalha limpa, me incitando a tomar um banho.

Quando eu saía do banheiro, uma refeição completa me aguardava em cima da mesa, era perfeitamente equilibrada e repunha minhas energias. Nossos almoços eram especiais, Mei não falava muito sobre si mesma, mas sempre me perguntava uma ou duas coisas sobre minha vida em Bridgeport. E eu discursava sobre meu trabalho e meu melhor amigo, sempre ressaltando a ausência de uma namorada. Após me satisfazer com o saboroso almoço caprichosamente preparado e sua conversa tímida mas calorosa, me fazia sentar em meditação para aprender a silenciar a mente inquieta e agitada.

Com certeza esta era a parte mais difícil. Como limpar minha mente, quando a perfeição e a tentação se encontravam ao meu lado? Aquela pele branca e macia exalando um perfume exótico e sensual a preencher minhas narinas?! Ainda assim, minha mestra mantinha a distância oriental tradicional de Mestre-Discípulo, deixando clara a impossibilidade de um romance entre nós.