sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Festival de Verão

Minha amiga estava disposta demais para relaxar, veio em minha direção gingando seu quadril e arrastando a língua por entre seus lábios de forma sensual. Eu não tinha dúvida de qual era o seu desejo. Desde nosso encontro no Rio Nilo, mal tivemos tempo para qualquer coisa, exceto dormir. Não me detive em procurar seus lábios, carregá-la para cama e tirar suas roupas. Só após estarmos completamente saciados tomamos nosso banho e dormimos na grande cama no centro do quarto.

O cansaço dos últimos dias cobrou seu preço, dormimos por doze horas seguidas e acordamos no meio da manhã. O cheiro do café fresco e de panquecas emanava da cozinha e entranhava nossas narinas. Em meio aos nossos corpos ainda entrelaçados na cama, uma sinfonia de estômagos rugindo de fome, nos fez rir e levantar rapidamente. Arrumamo-nos e descemos as escadas apressados para desfrutar da maravilhosa culinária de nosso anfitrião.

Após o desjejum, Giosone nos orientou a procurar uma jovem conhecida dele. Os dois eram companheiros de infância e compartilhavam a mesma descendência do clã original dos Illsiminatis. Determinada a deixar o legado de seus ancestrais em mãos corretas, ela havia se infiltrado na corporação e usou seus dotes femininos para descobrir os segredos mais sombrios dos usurpadores.

Agora com todos os ingredientes exóticos em mãos e a nossa ajuda, os dois estavam dispostos a lutar contra a cúpula da Morcucorp e resgatar o Cálice da Vida. Porém ele não poderia faltar seu trabalho para não levantar quaisquer suspeitas. Fiquei encarregado de encontrar-me com Donatella Romanesco nos estábulos da cidade. Enquanto isso, Eva daria algumas informações falsas sobre os rebeldes no Egito, encerrando sua missão.

Eram quase dez horas quando nosso anfitrião saiu para o seu trabalho. Eva saiu pouco depois dizendo que me mandaria uma mensagem quando saísse da sede da corporação. Meu encontro com a jovem seria ao final da tarde, por isso resolvi dar uma volta no mercado da cidade e conhecer um pouco mais sobre a sua cultura e o povo. Envolvi-me com as barracas de comidas e bebidas, além das conversas em língua nativa. Descobri que ao lado do mercado acontecia o festival de verão e até me arrisquei a dar uma volta de patins e tirar fotos comemorativas.

Foi quando notei, estava no meio da tarde e não havia recebido qualquer notícia da minha amiga. Peguei meu celular pensando se havia deixado desligado, mas estava funcionando perfeitamente. Nenhuma mensagem na minha caixa... Ela não se esqueceria de me mandar uma, poderia ter ficado sem bateria, mas havia tempo de sobra para voltar para casa e me ligar. Pretendia passear um pouco mais e ir direto para a estrebaria. Contudo, ficaria mais tranquilo se a encontrasse descansando sobre o sofá da sala, ou limpando sua máquina fotográfica. A sensação de aperto em meu coração se desfaria e eu poderia ir ao encontro sem qualquer preocupação.


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Uma Luz no Illsiminati

Eu realmente fiquei empolgado ao avistar a cidade. As dúvidas começaram a surgir quando paramos no sopé do monte que abrigava a antiga fortaleza e seu castelo. Eva tinha o endereço do nosso contato na cidade. Giasone Ferrétto era um chef de cozinha bajulador, riquíssimo, possuidor de uma mansão na parte alta e dentro das muralhas seculares. Ele servia os mais ricos pratos para os mais desagradáveis senhores da cidade. A corrupção fazia parte do lugar há anos, graças a Morcucorp.

Acolhidos em sua enorme mansão, nos mostrou livros antigos sobre a origem nobre do Illsiminati. Eram cavaleiros que juraram proteger os segredos do Cálice da Vida e mantê-lo a salvo de qualquer vilania, muito antes do cristianismo se estabelecer na Europa. Entretanto, com o passar dos anos, a Igreja se tornou poderosa e perseguiu-os por séculos. Esses cavaleiros para se protegerem, descobriram fórmulas capazes de deixá-los mais fortes, para lutar contra as forças mesquinhas do clero. Seus antepassados faziam parte deste seleto grupo, e o Cálice da Vida que ficava sob a guarda de alguns remanescentes foi bem escondido em Monte Vista, quando eles destruíram todas as evidências de sua existência.

As palavras de Giasone me confortaram, realmente existiu o Illsiminati, mas era composto por guerreiros e sábios em busca de manter a harmonia em um mundo prestes a entrar em séculos de trevas e sofrimento. Por outro lado me preocupava, pois os usurpadores da Morcucorp roubaram o título, assim como todo o conhecimento guardado por gerações nas profundezas da cidade. Eles estavam próximos de descobrir o local onde o Cálice da Vida estava guardado. Se isso acontecesse, nosso anfitrião teria falhado com seus ancestrais, precisávamos pará-los.

Ele nos forneceu algumas munições, poções que ele mesmo preparou com o conhecimento dos antigos. Foi quando eu perguntei:

– Essas poções não matam ninguém, certo? Não quero ser autor de algum assassinato, ou algo do gênero. – seus olhos se arregalaram quando me respondeu com um sonoro não, antes de explicar. A poção apenas os renderia. Ele tinha um soro da verdade para quando a polícia não corrompida da cidade vizinha chegasse e eles confessassem seus crimes.

Giasone estava sozinho nesta empreitada, os antigos cavaleiros deixaram poucos descendentes e o penúltimo morreu por culpa da Morcucorp. Escondeu suas origens, trocando seu nome, graças a estar estudando em uma universidade da capital quando a corporação tomou conta de Monte Vista. Contudo ele esperava recuperar seu legado de volta e colocar os canalhas na cadeia, aonde pertenciam. Mas precisava da ajuda dos rebeldes do Egito, alguns ingredientes mais poderosos para suas poções só existiam em Al Simhara. Foi justamente a arma secreta que Eva foi encarregada de trazer à Itália.

De posse dos ingredientes, nosso anfitrião perguntou se estávamos cansados da viagem ou preferíamos comer alguma coisa antes de descansarmos. No dia seguinte teríamos muito trabalho pela frente. Pedimos pelos dois e a sua alquimia na cozinha demonstrava sua capacidade inata de misturar qualquer poção. Depois da deliciosa refeição, ele nos levou a um quarto de hóspedes e nos deixou a sós, mostrando o banheiro em anexo. Quando saiu, o olhar da Eva era no mínimo intrigante...


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Monte Vista!?

Eu estou inclinado a acreditar que tudo não passou de algum delírio da minha mente, quando pisei em uma alavanca, o fogo queimou e dissipou qualquer vestígio daquelas inoportunas visões. E finalmente pude recolher a terceira peça do nosso quebra-cabeça. Voltei direto para a casa da Layla, esperando juntar as relíquias, o texto no papiro e encontrar algo relevante para o embate com os executivos da corporação.

Eva se instalou por lá, traçando planos contra o inimigo comum, mas a meu ver, preferiram ficar com ela como refém até que eu entregasse a última relíquia. A cabeça da resistência era versada nas línguas antigas do Egito e soube decifrar cada hieróglifo durante o curto tempo de minha busca. Com este trunfo em mãos deu a minha amiga a arma perfeita para desafiar o presidente da corporação e seu grupo de CEOs. A princípio eu não compreendi a necessidade de tal arma mágica para desbaratar a corrupção dentro da Morcucorp.


Mesmo quando ela confessou ser real a associação do grupo com os Illsiminati, não quis acreditar em sua loucura. Os Illsiminati são apenas parte da crendice do povo, como coelhinhos da Páscoa e Papai Noel. Grandes alquimistas que conspiram para dominar o mundo são retóricas de quem não tem explicação lógica e racional para acontecimentos ainda “inexplicáveis”. Mesmo assim fui convencido por Eva a concordar com o plano "infalível" de Layla e embarquei com ela, após uma semana de buscas no Egito, para Monte Vista.

Na Itália encontraríamos a sede da corporação e teríamos a chance de desmascarar o grupo como conspiradores. Na teoria parecia tudo muito fácil, mas na verdade tudo me parecia absurdo demais. Minha amiga maluca estava de acordo com toda aquela conversa e disposta a usar as armas fornecidas pela rebelde para colocar todo o bando na cadeia. Descrente de toda a situação, omiti minha opinião e embarquei com ela para Itália para enfrentar os vilões, sem imaginar como os enfrentaria pelo menos em igualdade de situação.

A visão daquela estupenda cidade da janela do avião desvaneceu todas as minhas dúvidas. Ter a oportunidade de conhecer um lugar tão lindo e distante da minha realidade foi o suficiente para estabelecer em mim alguma paz. A cidade é murada ao modo medieval onde a predominância da cerâmica vermelha em suas cores, o castelo com sua ponte levadiça, o rio correndo ao redor dos campos, as pontes milenares a ligar os recantos mais distantes...

Era tudo quente e contagiante, como só o verão na Itália poderia ser! Aqueles muros podiam esconder o que fosse, mesmo os mais vis alquimistas dos contos de terror. Eu estava disposto a colocar por terra nossos algozes, encontrar brechas em suas pedras filosofais e estourar uma a uma. Tudo o que restaria ali é uma cidade bela e plena de felicidade, livre de qualquer marginal, como Monte Vista merecia.