domingo, 31 de março de 2013

Por Fim, Felicidade Sem Fim

Dediquei-me completamente ao Dojô até a vinda da Mei, logo após o jantar. De comum acordo perguntamos ao Will se não gostaria de trabalhar conosco. Ele é perfeito para fazer as relações públicas e recepção do lugar. Para a nossa alegria ele aceitou, com isso, antes mesmo da inauguração, toda a cidade estava falando do novo espaço. Contratar meu amigo foi excelente para a divulgação e espero que seu entusiasmo com o empreendimento dure pelos próximos meses.

Algumas celebridades confirmaram sua presença, contudo a grande atração seriam as amigas Sam Petrov, Andrea Montez e Lana Turner. Eu nunca as deixaria de fora da minha lista, embora tenha me assustado quando a Deka anunciou sua mudança, mesmo assim ela aceitou meu convite e veio a Bridge para a abertura oficial. Will estava empolgado com a presença do trio, levou o nome do Dojô Dragão de Fogo para todos os jornais da cidade e até mesmo de fora.

Chegamos ao Dojô e nos admiramos no quão perfeito ficou. Minha amada apesar de toda timidez estava empolgada com a inauguração. Meu amigo entrou em seguida sorrindo de orelha a orelha e explicou:
– Lá fora está lotado de paparazzi, parece que alguém divulgou a boca miúda sobre a presença das divas na inauguração. Até tiraram uma foto minha quando entrei!

Poucos minutos depois me assustei com uma batida na porta dos fundos. Os únicos a trabalharem no Dojô éramos nós três, o barman, já estava a postos na lanchonete, e a massagista. Abri a porta admirado com a presença de três pessoas muito queridas: Eva e Gino, assim como o meu mestre. Eu esperava qualquer coisa da minha amiga maluca, uma surpresa, ou simplesmente uma recusa despreocupada. Contudo não esperava ver o Shang longe de seu povoado.

Estar com meus amigos, Mei e meu mestre, foi com certeza uma alegria inesperada. Nada poderia dar errado na companhia de pessoas tão queridas e amadas. Ainda faltavam alguns minutos para abrir e Eva fez questão de brindar a minha conquista e sucesso. Os abraços foram distribuídos entre todos, além de algumas apresentações. Shang se ofereceu para lutar comigo na demonstração de Kung Fu, poupando minha amada para fechar o evento explicando os primeiros passos da meditação transcendental para os convidados.

Na hora de abrir o Dojô Dragão de Fogo a apreensão e a expectativa invadiram o ambiente. Will ficou a postos na recepção com os folhetos sobre os horários de aulas e meditações guiadas, além de alguns brindes de inauguração. A tensão dentro da recepção chegava a ser palpável. O único ser calmo e sereno era o Shang, mesmo Mei estava intimidada. Uma nova etapa em minha vida começou ao seu lado e eu estou muito ansioso para tudo sair a contento.

Como em uma cidade pequena, a notícia da vinda das divas se espalhou. Em pouco tempo a recepção encheu e levamos os convivas para o tatame aonde ocorreria a primeira apresentação, minha amada quebraria um meteorito na frente da plateia. Quando o casal Montez-Lucca chegou, levei-os diretamente para a sala de meditação, cumpriria minha promessa de apresentar Mei a Andrea.

Eu ainda me pergunto se minha amada é realmente tímida, logo as duas entabularam uma conversa animada sobre os benefícios da meditação. Deixei-as a vontade e caminhei com o Miguel pela sala quando me interpelou:
– Quem vai participar da luta? – sua curiosidade foi saciada quando lhe contei sobre a vinda do Mestre. O sorriso em seu rosto indicava o quanto estava feliz por apreciar tal luta, entre dois campeões.

Ainda estávamos conversando quando Lana adentrou a sala ao lado da Sam. Fiquei feliz por vê-las, se aproximaram da amiga antes de vir me cumprimentar, afinal Deka mora em Sunset e desde sua mudança não se viam. Notei as apresentações ocorrerem soltas e a sobrancelha da minha deusa ruiva subir, em seu gesto característico de soltar alguma frase ácida. Fiquei apreensivo, não escondi meus relacionamentos anteriores, contudo não tenho certeza de como minha amada se sente em relação a um passado tão recente.

Apesar de seu primeiro olhar fosse surpreso, em seguida falou com sua tranquilidade nata, aliviando minha tensão. Ela não é uma boneca de porcelana prestes a se quebrar, sabe se virar sozinha. Quando ouvi a risada sonora das divas, soube que tudo ficaria bem. Quem sabe um dia se tornariam boas amigas? Talvez eu estivesse desejando demais...

Levei o Miguel até o tatame e o apresentei ao meu mestre e deixei os dois conversando empolgados sobre Shang Simla. Fui à recepção e encontrei Will sozinho:
– Acredito que a maior parte dos convidados chegou, bem a tempo da primeira apresentação. Vou ficar aqui e esperar os retardatários.

Voltei para o tatame e as divas estavam acomodadas nas cadeiras da primeira fila, reservadas aos VIPs. Em seguida Mei entrou, pediu a todos silêncio e o público se aquietou. Demorou uns cinco minutos para concentrar o chi necessário e quebrar o bloco a sua frente, partindo-o ao meio como se fosse giz. Quando ela se curvou para os dois lados do tatame, uma salva de palmas e os gritos de surpresa preencheram a sala.

Era a minha vez, com a sua saída, caminhei ao centro do tatame com o Shang. Expliquei aos convidados que a luta seria real, sem qualquer truque ou artifício. Mais uma vez pedi silêncio para a concentração inicial e o ambiente se aquietou. Reverenciei meu Mestre e lutamos de igual para igual. Mal acreditei quando o venci e fui ovacionado pela plateia.

Após o embate, Will encaminhou todos à sala de meditação, aonde Mei aguardava sentada em posição meditativa. Cadeiras estavam posicionadas de frente para ela, assim os participantes não precisaram sentar no tatame e prejudicarem suas belas roupas. Sentei ao seu lado direito e o Mestre ao esquerdo, em seguida ela começou a falar sobre o chi e a respiração. Não sei se todos ali alcançaram o estado meditativo, contudo havia uma paz e tranquilidade palpáveis na sala quando terminamos.

Ao final direcionamos os convidados para o bar, servimos bebidas não alcoólicas e minha amada preparou alguns pratos japoneses, deixando algumas pessoas de boca aberta ao apreciar o espetáculo, antes mesmo de degustar a receita. Cumprimentei alguns conhecidos da escola e até algumas das minhas antigas amigas.

No dia da inauguração, nossa primeira matrícula foi a de Sam Petrov, fomentando novas adesões. Ela é uma aluna muito interessada e incansável. Devo agradecer às divas parte no sucesso do meu novo empreendimento. Eu virei celebridade da noite para o dia e agora o Dojô está repleto de novos alunos. Em breve precisarei encontrar ou preparar novos professores.

Estou vivendo o meu amor por Mei ao máximo. O meu júbilo está espelhado em seus olhos e vivemos finalmente a plenitude de uma vida a dois. Eva volta para Monte Vista no fim de semana e nos intimou a visitá-la em breve. Minha amiga finalmente encontrou a felicidade ao lado do Gino, espero realmente que vivam o “felizes para sempre” dos contos de fadas.

Will pretende treinar dois jovens para a recepção, ele vai apenas supervisionar o trabalho. Está radiante com a confiança depositada nele e principalmente com seu papel de relações públicas. Sua alegria o fez finalmente se dedicar a sua pintura e terminar uma de suas telas! Pretende passar suas próximas férias em Starlight Shore, a procura do seu amor previsto na bola de cristal da bruxa de Sunlit Tides.

Finalmente eu alcancei meus sonhos e anseios, conquistei duas vezes o título de campeão no Grande Circuito e minha amada. Tenho um novo empreendimento de sucesso e estou eufórico com a minha nova profissão. Se um homem pode ser mais feliz? Eu até acredito. Contudo eu nunca imaginei encontrar tanta felicidade em toda minha vida, e ela só está começando...


quinta-feira, 28 de março de 2013

Jantar entre Amigos

Deixei tudo em ordem para a chegada da Mei. Precisava fazer duas chamadas difíceis, uma era para Gina, pedindo para não aparecer mais em meu studio e explicando meu atual compromisso. A outra foi para Lana, era hora de colocar um fim em nossa amizade com benefícios. Se minha deusa ruiva estivesse em Bridge teria conversado pessoalmente, não tornaria minha tarefa mais fácil, contudo poderia ver sua reação e... Realmente foi como deveria ser, sem a tentação diante dos meus olhos.

Quando Lana e a Deka voltaram de Twinbrook com a Sam, fui intimado a levar o Will para um jantar na casa da família Montez-Lucca. Meu amigo estava empolgadíssimo com o convite, chegou a minha casa muito cedo, eu mal tinha voltado do dojô e saído do banho. Fomos em um carro alugado e paramos em frente a casa verde, destoante do ambiente acinzentado e clean de Bridgeport.

O mordomo nos colocou para dentro e ao entramos nos deparamos com as três amigas reunidas na sala. Will olhou para mim com cara feia, seu olhar dizia o quanto estava consternado por fazer suas divas esperarem por ele, contudo estávamos dentro do horário. Ele ficou um tanto sem jeito a princípio, mas Andrea foi a primeira a se aproximar e dar-lhe um beijo. Naquela hora eu não tive dúvidas, logo desmaiaria de emoção...

Não deu outra, aquele homem com mais de um metro e noventa estava prestes a desabar no chão quando o Miguel entrou na sala e o aparou falando:
– Eu sei que o beijo da minha esposa é potente, mas não sabia que faria qualquer um desmaiar de emoção – estar dos braços do homem foi o suficiente para mais um de seus desmaios...

Conhecendo os faniquitos do Will carreguei-o até o sofá próximo e afastei tanto o Miguel quanto as divas. Lana e Sam riam a se esbaldar com a cena. Deka parecia desolada por provocar tal situação e seu marido estava confuso, até eu explicar o jeito dramático do meu amigo. Foi o suficiente para ele compreender o que se passava, tinha em sua esposa um exemplar semelhante.

Quando o meu amigo finalmente acordou, ficou totalmente envergonhado por sua crise. Desculpou-se com todas e aproveitou para pedir seus autógrafos, me fazendo passar ainda mais vergonha. Para minha sorte, as três se divertiram muito dando suas fotos autografadas com dedicatórias atrás, e Sam já estava com um de seus livros para lhe entregar em mãos. Eu comentei o quanto Will admirava suas obras e ela foi muito generosa oferecendo um livro para um fã. As três logo entabularam uma conversa animada com ele e se entenderam muito bem. Eu e o Miguel acabamos excluídos da conversa sobre o melhor salão e SPA da cidade.

Geralmente, só pude ver seus filhos cochilando no berço quando vou lutar com o Miguel, como um pai orgulhoso queria me levar até eles toda vez. Acho que falei com sua menina uma ou duas vezes. Esta noite os dois estavam acordados esperando as visitas para brincar um pouco e receber seus beijos de boa noite. Fiquei fascinado quando a pequena Alice se agarrou em minha perna balbuciando algo como:
– Tio, minha boneca quer namorar você!

Sem saber muito o quê fazer me inclinei para sua boneca e estalei um beijo nela. Foi o suficiente para a menina rir e pedir meu colo. Eu estou acostumado com as crianças maiores no orfanato, nunca tive contato com crianças de colo antes e fiquei um tanto inseguro de como acomodá-la, mas recebi um olhar de aprovação do pai e um belo sorriso da pequena. Nesse momento Sam e Lana entraram no quarto.

A primeira veio em minha direção para pegar a afilhada e logo estavam procurando pelo brinquedo favorito da menina. Minha deusa ruiva se aproximou e disse:
– A chinezinha te dominou mesmo! Se continuar assim, logo vai estar com o seu próprio pirralho fedido nos braços! – eu fiquei sem ação, afinal ela havia acertado em cheio, ter filhos sempre me pareceu uma responsabilidade enorme. Nunca imaginei ser capaz de desejar ter um filho, mas com Mei... A ideia não parecia tão má.

Aproveitando sua presença, Miguel comentou:
– Perfeito Lana, vou apresentar o Heitor para o Matheus e você pode passar algum tempo com seu afilhado. – eu até hoje me pergunto se aquilo foi sincero, uma provocação ou simplesmente uma frase inocente.

O quarto do menino era decorado em tons de azul e amarelo, enquanto o da menina de branco e rosa, como em qualquer família tradicional. Ele estava acordado e sorrindo, parecia animado com a atenção dos adultos. Fiquei ainda mais sem jeito para segurá-lo. O pai me ajudou a acomodar o menino e foi quando o Will chegou com a Andrea, os dois pareciam muito divertidos ao me verem com o Heitor nos braços.

Sem nem ao menos pedir, ele arrancou o menino do meu colo e como se fosse a coisa mais natural do mundo o elevou para alto, fazendo o bebê gargalhar. Foi quando ele comentou algo sem nem se dar conta da sua grande confissão em público:
– Eu adoraria ter um desses! – seu tom era triste, contudo acredito na sua capacidade para contornar seus problemas e ter um filho, quando a hora chegar.

Depois de apropriar-se do Heitor por alguns minutos, Lana se aproximou e falou:
– Me dá ele aqui, tenho que cumprir meu papel de madrinha, o pirralho precisa reconhecer o perfume da sua dinda. – rimos de sua declaração. Ela pode até não gostar de crianças, contudo o amor que tinha pela amiga a deixava um pouco mole em relação ao afilhado.

O jantar transcorreu tranquilamente, a comida estava divina. Miguel riu dizendo ter sido o mordomo quem o fez, se dependesse da esposa ele viveria de salada e macarrão com queijo. Aparentemente Will já fazia parte do grupo. Conversava com as três como se fossem velhos amigos. Fiquei feliz com a conclusão, provavelmente ele as convenceria a ir às danceterias e boates ou até a beberem juntos no Boteco do Eugi. Ao sair de lá, me senti aliviado, apesar da minha atração inegável por Lana Turner, consegui me controlar muito bem.


domingo, 24 de março de 2013

Finalmente!

Dezembro foi um mês agitado na escola e dessa vez tive um aluno de recuperação que me segurou em Bridge até o Natal. Não pretendia deixar de lado as crianças do Lar Cosme Damião por mais um ano de qualquer forma. Eu e Will cumprimos mais uma vez nosso papel como recreadores e levamos muitos presentes para a criançada. Foi muito bom estar ali novamente e ver as crianças sorrindo até os olhos.

Eva voltou a Bridge para passar o Ano Novo com a gente. Ficou hospedada em um hotel no centro com o Gino, tanto eu quanto o Will morávamos em apartamentos muito pequenos para abrigar um casal. Fomos para o Aquarius. Lá assistimos os fogos do terraço e brindamos a nossa felicidade para o ano vindouro. Nossa amiga estava radiante, seu namorado a fazia feliz e isso me deixou mais aliviado em relação a toda nossa antiga história. Nós estávamos curados de nossa paixão adolescente.

No dia seguinte voei para Shang Simla. Muitas horas depois fui direto para a casa do Shang. Havíamos conversado após meus esclarecimentos com a Mei. Ele me ligou e explicou sobre seu relacionamento amoroso com a prima estar terminado. Na realidade, eles tiveram uma paixão adolescente, e no final não conseguiam se desconectar por só terem um ao outro como parentes. Desculpou-se por ocultar tudo, como um bom amigo achou melhor omitir alguns fatos passados pensando apenas na nossa felicidade.

Em sua casa, encontrei minha amada. Estava ainda mais deslumbrante, fez questão de se pendurar em meu pescoço e me abraçar com efusão. Por isso me entreguei ao gesto, ávido por descobrir o patamar do nosso relacionamento. Pela sua demonstração de afeto, eu diria estar decidida a ir adiante. Contudo, nunca tenho certeza de nada com ela. Talvez por isso me sinta tão atraído. Beijamo-nos apaixonadamente e minha vontade era mostrar a força do meu desejo ali mesmo na sala. Pressionei meu corpo de encontro ao seu e ouvi seu suspiro. Sem cerimônia fomos ansiosos para o quarto.

Retiramos nossas roupas apressadamente e nem chegamos à cama. Mais tarde desfrutamos de nossos corpos como se fosse a primeira vez, decorando suas curvas com minha boca e mãos, apreciando o contato de nossa pele desnuda. Passamos o dia naquele quarto, não só demonstrando nosso amor com o enlace de nossos corpos, mas também projetando nosso futuro juntos. Comentei sobre os meus planos de abrir um dojô, não faltaria trabalho para os dois. Percebendo uma oportunidade de expandir seu conhecimento em uma cidade tão necessitada de novas ideias, minha amada ficou empolgada.

Um dia depois, recebi um pedido para achar o Machado de Pangu perdido nas profundezas da montanha do Templo Paraíso. Aceitei e usei minha capacidade de me teletransportar em estado meditativo para pegar o item mágico, no entanto notei uma série de escadas. Precisando reabastecer minhas economias, procurei pelos tesouros escondidos nas profundezas. Passei dois dias dentro daquele local repleto de armadilhas e perigos. Dessa vez, Mei tinha outros compromissos e fui sozinho.

Depois da aventura, passei meus dias entre os treinos e meditação com o Mestre, além de noites de muita paixão com minha amada. Mal percebi quando chegou a semana do Grande Circuito. Assisti todas as lutas no tatame, com minha amada e o meu Mestre ao meu lado, alguns dos competidores do ano passado estavam ali. Apreciei a técnica de todos e aproveitei o momento para compreender os golpes dos meus antigos oponentes.

Na final, o meu desafiante era o lutador o qual venci no ano anterior, na semifinal. O homem estava mais ágil e melhorou muito o seu desempenho. Entretanto eu havia seguido de perto suas lutas e sabia o que esperar. Além disso, eu continuei treinando e melhorando minhas técnicas, tanto quanto ele. Assim, quando nosso embate chegou a fim fui novamente condecorado como o Campeão.

Desta vez, o ano novo chinês foi no domingo de carnaval. Como da primeira vez fui carregado sobre o dragão em meio a multidão e a profusão de vermelho e dourado das lanternas e decorações. Não foi muito diferente de um carnaval na cidade. Embora as danças e o ritual fossem diferentes, todos se vestiam com roupas típicas. Além da alegria contagiante do povo.

A essa altura eu havia pedido uma licença na escola para poder participar da final do Grande Circuito e na verdade pretendia não voltar para minha carreira antiga e poder me dedicar à abertura do dojô em Bridge. Logo após o feriado recebi uma ligação, havia um lugar apropriado que meu corretor desejava mostrar. Estava muito animado e adiantei minha passagem. Mei decidiu morar comigo, contudo precisava de mais tempo para preparar sua mudança. E eu, ajeitar minha vida para recebê-la sem qualquer desconforto ou surpresa.

Chegando a Bridgeport, fui direto ao local indicado pelo corretor, fiquei impressionado com o local. Era muito mais que perfeito, era incrível. O valor da propriedade estava dentro do meu orçamento. Mal acreditei na minha sorte. A localização não era tão ruim embora não fosse muito próximo ao metrô eu sempre poderia atrair o público usando meus títulos como propaganda. Provavelmente em uma cidade tão grande, haveria muitos rapazes desejosos de ser como o Jet Li.


quinta-feira, 21 de março de 2013

Acertos

Depois desse encontro me senti seguro o suficiente para retornar as inúmeras ligações de Mei. Era hora de enfrentar a minha verdadeira luta, dizer o que tinha escutado e entender o significado. Ouvir sua voz me fazia rememorar suas palavras e ainda doíam fundo em meu coração. Ela estava prestes a me fazer perguntas, contudo pedi para me escutar primeiro. Contei sobre minha indiscrição, e como tudo me levou a querer correr para longe dela e de Shang Simla.

Do outro lado, seus soluços e suspiros eram profundos e tensos. Praticamente senti suas lágrimas em meu ouvido. Ela finalmente falou:
– Eu deveria ter te contado antes, mas primeiro não vi motivos para isso. Depois começamos a nos envolver e fiquei envergonhada, por último tive medo de te perder. – até aí não havia me explicado absolutamente nada, só me deixou mais confuso. De certa forma éramos parecidos em nossos receios. – Minha família é pobre, vivíamos amontoados em apenas um quarto em Shangai. Shang é da parte rica e nobre da família.

Sua história me parecia algum conto da carochinha, algo distante e absurdo, mas a dor em sua voz me fez acreditar:
– Sua família se encantou por mim, quando visitaram os parentes pobres. Principalmente por conta da minha inteligência e beleza. Eles me compraram de meus pais e me levaram para a Vila. Eu era uma pré-adolescente e me encantei com o gentil primo mais velho. Quando meu corpo amadureceu, eu o seduzi. Seus pais notaram o envolvimento, o mandaram para estudar na capital e me deram a minha casa, e passei a morar lá com uma governanta.

Fiquei aturdido com a narrativa e mal pronunciei qualquer palavra, ela continuou:
– Nesse período nos vimos poucas vezes, até seus pais morrerem em um acidente, uns meses antes de completar o seu curso universitário. Quando voltou ele impôs certa distância como seus pais desejavam, me fez viver em minha casa, mas não se afastou de mim, me deu amor e carinho, como eu nunca havia recebido de qualquer outro membro da família. Só tínhamos um ao outro no mundo e foi assim durante alguns anos, até você aparecer. Ele foi o primeiro a me ensinar sobre o amor. Estive dividida entre vocês por muito tempo.

Finalmente perguntei o que realmente precisava saber:
– Agora, o quê você decidiu? Quer continuar sua vida aí ao lado de seu primo, sem estabelecer um relacionamento sério, ou prefere se arriscar aqui comigo? A vida no orfanato não foi fácil, um dia eu estava feliz com meus pais, no dia seguinte eu fui levado de um canto a outro até me colocarem em um lar estranho com um monte de desconhecidos. Aprendi que a vida é efêmera e deve ser vivida em toda sua intensidade, se amo ou me apaixono preciso vivenciar isso, pois um dia tudo pode acabar sem qualquer aviso.

Sua resposta foi como sempre vaga e hesitante. Restava a mim apenas a esperança em um futuro. Contudo esse sempre foi meu maior desengano... Haveria um futuro para nós? Por isso joguei minha última carta e disse "Eu amo você". Do outro lado da linha, ouvi seu pranto e desespero antes de concluir a ligação dizendo:
– Também amo você, não desista de mim. - em seguida havia apenas o silêncio da chamada completada.

Eu precisava me agarrar a suas últimas palavras e esperar sua decisão. Foi um momento conturbado em minha vida. Dediquei-me ainda mais ao meu treinamento, tanto em meu studio, quanto ao lado de meu companheiro de artes marciais em Bridge. Miguel estava se tornando um oponente cada vez melhor e disse a ele para não treinar mais com sua esposa, Andrea Montez. Qualquer descuido e ela poderia se machucar mais uma vez. Ou então precisaria estar bastante concentrado para segurar a força de seus chutes cada vez mais potentes.

Deka, muitas vezes me ligava, com aval do marido para meditarmos na Esplanada das Borboletas. A essa altura eu já convivia com sua família e a amizade entre nós cresceu exponencialmente. Estávamos planejando um jantar em sua casa, pois queria muito conhecer o Will. Contudo ainda não foi no ano passado que conseguimos acertar uma data. Pretendíamos ter a presença da Lana e nunca acordávamos os horários do seu marido com os da atriz.

Minha vida continuou entre trabalho, treinos, ida ao bar do Eugi com o Will e alguns encontros descompromissados com minhas amigas. Gina havia desaparecido, por muito tempo, mas eu mesmo não a procurei mais. Nos fins de semana, buscava um local aonde pudesse instalar um dojô em Bridge. Preferia no centro, mas as opções eram quase nulas. De qualquer forma, não desisti, quando a oportunidade aparecesse eu ia agarrá-la com unhas e dentes.

Eu estava treinando em casa, quando recebi uma ligação da Lana, pedindo para vir aqui, sua voz tremia e não tinha sua segurança usual. Fiquei muito preocupado com ela e sabia exatamente como aliviar sua dor. Por isso tomei um banho esperando oferecer o conforto adequado. Para minha surpresa Gina estava com ela, além de sua gata Felipa.

A situação a princípio estranha e constrangedora assumiu uma nova categoria quando a morena mais uma vez se convidou para dividir... Dessa vez não havia o desconforto de estar pisando em ovos, fiquei realmente entusiasmado com a ideia e minha deusa ruiva notando o brilho em meus olhos, aceitou o convite. Não existem palavras para dizer o que vivenciei naquela noite. Posso apenas dizer que foi uma experiência inesquecível.

O restante do ano correu muito rápido. No início de dezembro encontrei a terceira amiga da dupla de atrizes, Sam Petrov. Era a única que eu não conhecia pessoalmente. Acabamos por nos esbarrar em um café, ela me reconheceu de imediato, graças as mensagens que sempre trocamos entre os nossos blogues. Comentou sobre a sua mudança para Twinbrook e suas esperanças com a nova cidade, além de seus receios por ficar distante de suas amigas. Eu a ouvi com atenção e pouco falei, percebendo sua necessidade de desabafo.

N.A.: Agradeço à Deka, Lana e Sam por me cederem suas fotos para essa atualização!